9 de Maio – O CANTO DO PEREGRINO 

Começando pelo fio que está nas mãos de uma mãe carinhosa, 
Até às roupas que o peregrino usa; 
Cosendo e cosendo, desde a sua partida, 
Lento e lento é o seu regresso, o medo dela. 
Quem poderá dizer que o coração de um centímetro de relva 
Pode compensar os raios do sol de uma Primavera inteira?

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8 de Maio – AS QUATRO ALEGRIAS DA VIDA 

Quando uma seca perdurante encontra a chuva pontual. 
Quando os caminhos de velhos amigos se cruzam em terras distantes. 
Quando vivemos uma noite de núpcias romântica à luz das velas. 
Quando o teu nome está na lista dos candidatos bem-sucedidos. 

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7 de Maio – GAOZI 

Quando o Céu está prestes a conferir uma grande posição a qualquer homem, exercita primeiro a sua mente com o sofrimento, e o seus ossos e tendões com um grande esforço. Expõe o seu corpo à fome, e sujeita-o à pobreza extrema. Confunde os seus empreendimentos. Através destes métodos consegue estimular a sua mente, endurecer a sua natureza e mostra-lhe as suas incompetências. 

Eu gosto de peixe e também gosto de patas de urso. Se não puder ter os dois juntos, deixarei o peixe ir, e ficarei com as patas de urso. Eu gosto da vida, mas também gosto da retidão. Se não puder ter os dois juntos, deixarei a vida, e escolherei a retidão. 

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6 de Maio – CONSCIÊNCIA E CONFIANÇA 

A consciência é a voz silenciosa e subtil que permite à minoria confessar. Quem é benevolente também será certamente corajoso, enquanto que a força é um meio necessário para castigar o vilão. 

Há que ter a confiança para saber distinguir o certo do errado a partir da nossa própria consciência, sem ser influenciado pela decisão da maioria. 

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5 de Maio – TUDO NUM PENSAMENTO 

Na vida existem muitas pessoas que estão habituadas a ser calculistas e a fazer comparações. As suas mentes estão cheias de suspeitas e de ódio. 

Apegados à ganância, à raiva e ignorância, ou às aflições e preocupações, estas pessoas vivem como se estivessem no inferno. 

Se conseguirmos ter uma mente aberta e tolerante em relação a tudo, guiando-a a cada momento para o caminho certo, então aí será como se estivéssemos a viver no céu. 

Quer alcancemos a budeidade, a iluminação, ou se ainda estamos presos no Samsara, tudo isto está dependente da nossa mente. A diferença entre um sábio e uma pessoa comum reside inteiramente num pensamento. 

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4 de Maio – UM PEDAÇO DA LUZ DO SOL (EXCERTO)

Perto do meio-dia, a luz dourada do sol entra pelo quatro por entre as malhas da janela e cintila translucidamente em todas as direções. Vislumbro a brilhante e distinta natureza do Sol, como se pudesse reconhecer as cores deslumbrantes que se entrecruzam umas com as outras, tentando perseguir as suas indetetáveis movimentações. Observo-a reluzindo na minha mesa como um cristal, sinto que ao deitar-me nela ganho algum tipo de paz, um tipo de exuberância, um prazer relaxado. Isto poderá ser descrito por: “Janela clara, mesa clara.” Ao guardar-se uma coisa destas silenciosamente dá-se um sentido de mistério e uma atmosfera poética ondulante.

Sem dúvida alguma, estimamos a cultura se respeitarmos todo tipo de arte que já existiu desde o início do mundo – quer seja uma criação artística abstrata ou um impressionismo não naturalista que dominou com engenho os materiais da natureza. Todavia, no que diz respeito à origem da arte, àquele toque e inteligência humana (ou por outras palavras, as suas emoções), qual será a melhor maneira para exprimir um carinho razoável por elas?

Existem dois tipos de luzes extravagantes no quarto que me deixam frequentemente ansioso. Tal como quando as flores florescem, elas levam-se pela brisa das sensações e espalham-se pelos ramos e folhas da tranquilidade e compostura. O primeiro tipo de luz é a luz da vela, posta no seu alto enquanto que as lágrimas de cera caem em profundidade, com as luzes e sombras da chama cintilante a cair por aqui e acolá, por detrás de cortinas caídas. A luz, brilhante e elegante, com um sentimento do passado, apesar de fazer parte do cenário, manifesta um sentido poético mais elevado.

O segundo tipo de luz é a luz do entardecer que, durante o início da Primavera, espalha-se subtilmente pelo quarto inteiro. As malhas da janela, os tampos da mesa, as pinceladas e as marcas de tinta, banham-se numa luz turva e formam a imagem da quietude. Ao adicionar algumas pinceladas de rebentos de flores vermelhas e de caules finos, o quarto torna-se ainda mais agradável e fragrante, ao ponto que a espiritualidade passa a sentir-se a partir do mais ínfimo dos movimentos.

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3 de Maio – CANTOS POÉTICOS 

Que guerreiros ardentes, 
e as suas poderosas ambições de governar o mundo; 
Cavalgando no horizonte, dirigindo-se em expedições, 
esquecendo-se do “eu” em função dos seus mandatos. 
Com poderosos arcos wuhao nas suas mãos, 
espalhando a luz reluzente das suas armaduras; 
Dispostos a dar as suas vidas em face dos perigos, 
os seus corpos morrem, as almas estilhaçam-se numa poeira voadora. 
Como podemos pensar na nossa própria segurança 
quando estamos sob ordens para lutar no campo? 
A lealdade é uma honra eterna, 
e a retidão dar-te-á um nome glorioso. 
Deixa o teu nome na história, 
para assegurar que a integridade perdura. 

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2 de Maio – VARRENDO SOB O PAGODE EM XIANGLIN 

Num mosteiro, limpar e varrer são as prioridades mais altas. Desde os aprendizes até aos monges mais velhos, nenhum está isento de levantar-se pela manhã e de trabalhar afincadamente. Há um pagode no Mosteiro Xianlin em que se varre e limpa, e depois limpa-se e varre-se uma vez mais. A sarira ilumina incandescentemente nas nossas mãos, não no pagode. 

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1 de Maio – PARÁBOLAS

Era uma vez um homem rico que sentia que a vida era desprovida de sentido e decidiu visitar um filósofo na esperança que este pudesse reduzir a ansiedade que sentia no seu coração. 

O filósofo levou o homem diante uma janela e perguntou, “O que vês?” 

“Eu vejo um homem e uma mulher, também uma criança”, respondeu o homem. 

A seguir, o filósofo levou o homem diante um espelho e perguntou, “E o que vês agora?” 

“Vejo-me a mim próprio”, disse o homem. 

O filósofo passou então a explicar, “Ambos o espelho e a janela são feitos de vidro, mas um lado do espelho tem uma camada de mercúrio, por isso não consegues ver nada mais que o teu reflexo.” 

Ao ouvir isto, o homem rico finalmente entendeu. 

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30 de Abril – ENTENDER A VIDA 

Ser uma pessoa livre e feliz, sem que isso contrarie as leis da natureza, assemelha-se à postura que uma pessoa demonstra numa peça de teatro. Um bom ator, apesar de estar perfeitamente consciente que tudo à sua volta é falso, é capaz de se exprimir de uma forma que é ainda mais realista, natural e alegre, em contraste com a vida real. E o mesmo é válido para a vida: a coisa mais importante é não sermos criteriosos em relação àquilo que é verdadeiro ou falso, lucrativo ou lesivo, fama ou proveito, nobre ou desvirtuoso, riqueza ou pobreza. Ao invés disso, trata-se mais de viver cada dia de uma forma alegre e descobrir a parte poética dessa experiência. Em algumas instâncias, a imperfeição é uma parte normal da vida, enquanto que a perfeição poderá ser a anormal. O seguinte ditado pode ilustrar isto: “raramente cheia, a lua estará maior parte das vezes em crescente”. 

Se entendermos a vida desta forma, podemos tornar-nos mais compreensivos, livres e despreocupados. E com isto, as nossas preocupações e os dias melancólicos serão levados pelo vento. 

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