4 de Maio – UM PEDAÇO DA LUZ DO SOL (EXCERTO)

Perto do meio-dia, a luz dourada do sol entra pelo quatro por entre as malhas da janela e cintila translucidamente em todas as direções. Vislumbro a brilhante e distinta natureza do Sol, como se pudesse reconhecer as cores deslumbrantes que se entrecruzam umas com as outras, tentando perseguir as suas indetetáveis movimentações. Observo-a reluzindo na minha mesa como um cristal, sinto que ao deitar-me nela ganho algum tipo de paz, um tipo de exuberância, um prazer relaxado. Isto poderá ser descrito por: “Janela clara, mesa clara.” Ao guardar-se uma coisa destas silenciosamente dá-se um sentido de mistério e uma atmosfera poética ondulante.

Sem dúvida alguma, estimamos a cultura se respeitarmos todo tipo de arte que já existiu desde o início do mundo – quer seja uma criação artística abstrata ou um impressionismo não naturalista que dominou com engenho os materiais da natureza. Todavia, no que diz respeito à origem da arte, àquele toque e inteligência humana (ou por outras palavras, as suas emoções), qual será a melhor maneira para exprimir um carinho razoável por elas?

Existem dois tipos de luzes extravagantes no quarto que me deixam frequentemente ansioso. Tal como quando as flores florescem, elas levam-se pela brisa das sensações e espalham-se pelos ramos e folhas da tranquilidade e compostura. O primeiro tipo de luz é a luz da vela, posta no seu alto enquanto que as lágrimas de cera caem em profundidade, com as luzes e sombras da chama cintilante a cair por aqui e acolá, por detrás de cortinas caídas. A luz, brilhante e elegante, com um sentimento do passado, apesar de fazer parte do cenário, manifesta um sentido poético mais elevado.

O segundo tipo de luz é a luz do entardecer que, durante o início da Primavera, espalha-se subtilmente pelo quarto inteiro. As malhas da janela, os tampos da mesa, as pinceladas e as marcas de tinta, banham-se numa luz turva e formam a imagem da quietude. Ao adicionar algumas pinceladas de rebentos de flores vermelhas e de caules finos, o quarto torna-se ainda mais agradável e fragrante, ao ponto que a espiritualidade passa a sentir-se a partir do mais ínfimo dos movimentos.

Audio do livro 365 Dias para o Viajante, do Ven. Mestre Hsing Yun