Gratidão na vida – menção honrosa, concurso de escrita 365 dias para o viajante

Durante a leitura do inspirador livro “365 dias para o viajante” do Venerável Mestre Hsing Yun, deparei-me com diversos excertos que enfatizam a importância da gratidão. A gratidão, na sua essência mais profunda, representa o reconhecimento sincero das coisas boas presentes na vida, ecoando a sabedoria de um provérbio português que proclama “A gratidão é a memória do coração”. Este ditado ressoou profundamente em mim, instigando a lembrar não apenas as grandes bênçãos, mas também os pequenos gestos frequentemente negligenciados.

Esta compreensão não é apenas uma reflexão passageira, mas um pilar essencial na construção do meu entendimento sobre a vida. Aprofundando esta reflexão, notei que muitas vezes consideramos como certas as coisas mais evidentes da vida, muitas vezes sem sequer contemplar a sua origem. Esta consciência levou-me a reconhecer a importância de práticas diárias que cultivam a gratidão, onde as coisas mais aparentemente simples ganham um novo significado quando observadas com uma perspetiva de gratidão. Ao adentrar neste nível mais profundo de compreensão, percebi que a gratidão não é apenas uma resposta ocasional a eventos positivos, mas sim uma postura de vida que se manifesta nas ações diárias. Cultivada através de práticas regulares, tornou-se um lembrete constante das inúmeras bênçãos que permeiam a minha jornada.

Cada palavra dos excertos do livro ecoou como um convite à minha profunda introspeção, levando-me a explorar as inúmeras razões pelas quais sou grata na vida. Desta forma, expressar gratidão tornou-se uma extensão profunda aos pilares fundamentais da minha vida:

  • Família: Expresso profunda gratidão pelos meus pais. A minha gratidão ainda abraça ainda os meus avós e outros familiares. Cada memória partilhada, cada riso partilhado são testemunhos da beleza intrínseca das conexões familiares. Cada um deles contribuiu com apoio emocional, amor incondicional e valiosas lições que moldaram quem sou hoje. São estes laços familiares que enriquecem a minha vida e que me proporcionam um sentido de pertença e de segurança.

Além disso, expresso uma profunda gratidão pelo meu irmão mais novo, que representa um dos maiores presentes que a vida me ofereceu. A sua presença trouxe alegria, companheirismo e uma conexão única que transcende as palavras. Juntos, partilhamos memórias preciosas e enfrentamos desafios, fortalecendo os nossos laços familiares e enriquecendo as nossas vidas de maneiras inimagináveis.

Para completar este círculo de afetos, expresso a minha gratidão pelo meu parceiro de vida, aquele que caminha ao meu lado nos altos e baixos da jornada, aceitando-me integralmente com todas as minhas imperfeições. Agradeço pela sua presença constante, pelo seu apoio incondicional e pelo amor que nutre por mim, mesmo nos momentos mais difíceis. Ele é o meu porto seguro, a minha âncora durante as tempestades, e por isso sou infinitamente grata. O seu carinho, compreensão e capacidade de me ouvir são tesouros inestimáveis que valorizo todos os dias.

Assim, é através destas relações profundas e significativas que a gratidão se manifesta como uma força transformadora na minha vida, tornando-me consciente da riqueza que é ter uma família que não só me apoia, mas que também enriquece a minha jornada com amor, compreensão e inúmeras bênçãos diárias.

  • Saúde e vida: A minha gratidão pela saúde e pela vida é um tributo às batalhas enfrentadas durante períodos de doença, uma jornada que me conferiu uma profunda apreciação pela vitalidade que agora desfruto. Nestes momentos de vulnerabilidade, cada respiração tornou-se um presente precioso, cada amanhecer uma dádiva renovada. A experiência da doença não apenas reforçou a minha resiliência, mas também amplificou a gratidão pela normalidade do quotidiano. Aquilo que antes podia parecer certo e garantido ganhou uma nova dimensão de valor. Cada passo firme, cada dia sem sintomas debilitantes tornou-se motivo para celebrar a resiliência do corpo e a fragilidade da existência. Foi ao ultrapassar esses momentos desafiadores que comecei a reconhecer plenamente o valor das coisas simples que costumamos dar por garantidas. O simples ato de acordar de manhã, a sensação de energia ao realizar tarefas diárias e a liberdade de explorar o mundo ao meu redor tornaram-se bênçãos que abraço com gratidão renovada. Esta reflexão profunda destaca a importância de apreciar o que temos, especialmente ao superar adversidades. A gratidão, nascida da superação pessoal, tornou-se uma poderosa ferramenta para nutrir a apreciação pela vida. Cada batida do coração é agora um lembrete constante da resiliência do corpo, da fragilidade da existência e da dádiva extraordinária de viver uma vida normal.
  • Alimentação e alojamento: A entrega de alimentos aos sem-abrigo revelou-se uma experiência transformadora, desencadeando uma profunda reflexão sobre a comida diária que muitas vezes dou por garantida. Neste momento de reflexão, expresso agradecimento não apenas aos incansáveis agricultores, cujo trabalho árduo viabiliza o acesso a alimentos essenciais, mas também aos meus pais. A presença diária de uma refeição na mesa, um gesto que pode parecer rotineiro, transformou-se em uma dádiva diária pela qual sou profundamente grata. Cada momento à mesa com eles tornou-se mais do que uma simples refeição; é um testemunho vivo de laços familiares fortalecidos por atos simples de amor e sustento. Esses gestos diários, que antes passavam despercebidos, tornaram-se agora expressões tangíveis de apreço pela vida quotidiana. Ter gratidão por um teto sobre mim é mais do que reconhecer a mera presença física; é apreciar a segurança e o abrigo que essa estrutura proporciona em todos os momentos. Estar grata por ter uma cama onde dormir todas as noites transcende o simples conforto físico; é reconhecer o refúgio acolhedor que esse espaço oferece, permitindo-me recarregar energias para enfrentar cada novo dia com renovada vitalidade. Desta forma, ao imergir nesta prática contínua de gratidão, cada refeição torna-se uma celebração, cada teto uma dádiva de segurança, e cada noite na cama é um presente que nutre não apenas o corpo, mas também a alma.
  • Educação: Durante o voluntariado em Kocaeli, Turquia, mergulhei numa experiência única dedicando tempo à educação de crianças órfãs deficientes. Este serviço não apenas despertou uma gratidão mais profunda pela vida que levo, mas também uma apreciação renovada pelos meus pais. Agradeço-lhes não apenas pelas palavras de conforto, mas pela dedicação incansável e pela educação valiosa que proporcionaram, abrindo portas para a minha formação académica. Cada interação com essas crianças tornou-se um testemunho vivo da importância do apoio familiar e da educação na construção de um futuro sustentável.
  • Recursos essenciais da natureza: Expresso gratidão pela presença de água potável, pela existência de oxigénio e pela luz solar. Celebro esta interconexão vital com o ambiente que nos sustenta. A consciência e apreciação desses elementos fundamentais tornam-se um ritual diário, lembrando-me constantemente da maravilha da existência e do papel essencial que desempenham na minha vida quotidiana.
  • Recursos materiais: Estou grata pelos recursos materiais que é mais do que valorizar comodidades; é reconhecer as ferramentas que tornam o meu quotidiano mais confortável. Cada objeto que facilita a rotina diária torna-se uma expressão tangível de gratidão pela praticidade e pelo conforto proporcionados. Agradeço não apenas pelos bens materiais tangíveis, mas também pela estabilidade e segurança que proporcionam, criando um ambiente propício para o florescimento pessoal e a construção de experiências significativas. Trabalhando fora de Portugal, agradeço imensamente pela existência dos aviões, que me permitem viajar e estar junto da minha família em períodos curtos de tempo. A capacidade de voar tornou-se uma bênção, permitindo-me manter os laços familiares e desfrutar da presença dos meus entes queridos, mesmo estando longe. Além disso, reconheço o papel fundamental do telemóvel na minha vida, especialmente quando se trata de manter contato com os meus familiares, como as minhas avós na China. Mesmo estando distante delas, o telemóvel facilita as videochamadas que faço todas as semanas, proporcionando-me momentos preciosos de conexão e partilha de afeto.

Desta forma, ao integrar essa compreensão mais profunda da gratidão, percebo que não é apenas um estado de espírito, mas uma prática contínua. Cada experiência, cada desafio e até mesmo cada pausa para contemplar o pôr do sol são oportunidades para reconhecer e valorizar as inúmeras dádivas que a vida oferece. Assim, esta jornada pela gratidão não é apenas uma viagem de palavras impressas, mas uma transformação contínua na maneira como percebo e vivo a minha própria existência.

Dharma-Buddha: Puro e Simples, vol. 1

Venerável Mestre Hsing Yun

(tradução: Eduardo Patriarca)

Capítulo 1: Fé

A fé religiosa é considerada pelos chineses como uma forma de receber bênçãos através da oração. Muitos budistas também não compreendem que a verdadeira fé religiosa é construída sobre a compaixão altruísta e o desapego da forma. A maioria não percebe que a fé religiosa se baseia na visão correcta, honestidade, justiça e dedicação altruísta na ajuda aos outros.

Ao falar em fé, as pessoas muitas vezes defendem a crença de que “ter um bom coração é suficiente, e que não há necessidade de fé religiosa”. No entanto, porque é que algum bom coração rejeitaria a fé religiosa? Há também pessoas orgulhosas de ser não serem religiosas e dizem: “Não acredito em nenhuma religião. Eu não tenho fé.” No entanto, quando confrontadas com adversidades como um fracasso empresarial, uma relação decepcionante, uma crise existencial, ou quando atormentadas pela dor e pela doença, as pessoas procuram naturalmente apoio religioso. Em particular, quando ocorre uma morte na família, muitas vezes as pessoas procuram ainda um monástico para presidir ao funeral. Assim, pode dizer-se que as questões da vida e da morte não se separam da fé religiosa.

Sima Zhongyuan (司馬中原), o famoso escritor, descreveu-se uma vez durante uma palestra pública como “um budista de coração” apesar de ser católico. Disse que, na China, o Budismo está no coração de todos, independentemente das suas crenças religiosas. Com o costume de cantar o nome de Buddha Amitabha ou rezar à Bodhisattva Guanyin em tempos de doença e adversidade, transmitido por milhares de anos, pode dizer-se que a fé budista é uma parte inerente da cultura chinesa.

Na verdade, para os budas e bodhisattvas não importa se alguém acredita neles ou não. Para eles, não há ganho ou perda alguma. No entanto, seria uma verdadeira pena se uma pessoa não tivesse fé em si mesma. Dúvidas sobre a nossa própria capacidade, conhecimento e compreensão, decorrem da falta de auto crença.

Uma pessoa que tem fé em si mesma é capaz de cometer ações saudáveis e tem força para ajudar os outros. Além disso, é capaz de discernir o saudável do nocivo e de acreditar na sua própria capacidade e potencial. Não seria uma vida com significado?

Certamente, os níveis de fé podem ser comparados a um sistema escolar que inclui o ensino primário, o ensino secundário e a universidade. Assim como os alunos completam os seus níveis de nota sequencialmente, a fé tem os seus próprios incrementos, começando com uma compreensão básica e progredindo gradualmente passo a passo.

Quanto aos diferentes níveis de fé, eu disse uma vez: “Nenhuma fé é melhor do que fé errada, a fé cega é melhor do que nenhuma fé, e a fé correcta é melhor do que a fé cega.” A base de qualquer religião deve ser estabelecida com base na fé correcta que nos permite colher benefícios incomensuráveis. Não só se deve desenvolver a fé correcta, como se deve acreditar, igualmente, numa religião que permita a liberdade de o fazer. Em particular, é melhor que todos tenhamos confiança e fé em nós mesmos. O Budismo ensina que a fé mais importante é a fé em si mesmo, acreditar no seu potencial para alcançar Buda e ser uma boa pessoa. Como tal, não é importante ter fé em si mesmo?

A fé é como um oceano, não seria maravilhoso ter um coração tão ilimitado como o oceano? A fé é como tesouros nas montanhas. Não é assim, que as belas virtudes da sabedoria, arrependimento, benevolência e justiça que residem no coração também representem a fé? Não importa quem sejam, admitam que também têm fé! Só com fé a vida pode ser inteira e completa. Só com fé se pode procurar espiritualidade e objetivos. Só através da fé é que se encontra a transcendência e um eu maior. Só assim se pode ter sucesso no futuro.

Introdução ao Budismo 007: Seis Perfeições – Concentração Meditativa e Sabedoria Prajna

Orador: Ven. Zhi Tong

Instituto FGS do Budismo Humanístico

Saudações auspiciosas aos espectadores de todo o mundo. Bem-vindos a um novo episódio de Introdução ao Budismo. Este é o nosso terceiro e último episódio sobre as Seis Perfeições. Antes de começarmos, vamos ver brevemente o que foi discutido nos últimos dois episódios.

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Introdução ao Budismo 006: Seis Perfeições – Preceito, Paciência e Diligência

Orador: Ven. Zhi Tong

Instituto FGS do Budismo Humanístico

Saudações auspiciosas a todos os espectadores de todo o mundo! Bem-vindos de volta a outro episódio dos Serviços De Dharma Ingleses Fo Guang Shan. Neste episódio, continuaremos a partir da discussão da semana passada sobre as Seis Perfeições. 

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Introdução ao Budismo 005: Seis Perfeições — Generosidade

Tradução: Eduardo Patriarca

Introdução ao Budismo 005:

Seis Perfeições — Generosidade

Orador: Ven. Zhi Tong

Instituto FGS do Budismo Humanístico

Saudações auspiciosas a todos os amigos Dharma em todo o mundo. Obrigado por assistir a um novo episódio dos Serviços De Dharma Ingleses Fo Guang Shan. O meu nome é Zhi Tong, e para o episódio de hoje sobre Introdução ao Budismo, vamos analisar a prática bodhisattva das Seis Perfeições.

I.               Introdução: Bodhisattva

Um dos termos que muitas vezes se depara quando aprendemos budismo é “bodhisattva”. O que é um bodhisattva? Quem pode ser um bodhisattva? Como ser um bodhisattva? O que é que o bodhisattvas pratica? Estas questões são importantes para a nossa cultivação budista.

Primeiro, vejamos a pergunta, o que é um bodhisattva?  Vamos examinar a palavra “bodhisattva”. Esta palavra em sânscrito tem duas partes: bodhi e sattva. Bodhi significa “acordar”, e sattva significa “ser consciente”. Um bodhisattva é um ser consciente que procura despertar. Mas o bodhisattva não para ao procurar o despertar para si mesmo – nesse processo, ele também ajuda ativamente outros seres conscientes a alcançar o despertar. Por outras palavras, os bodhisattvas são seres que beneficiam a si mesmos e aos outros.

Olhando para esta definição, passamos agora à próxima pergunta: quem pode ser um bodhisattva?  A resposta é: nós podemos! Todos podem ser um bodhisattva. Qualquer um que aspira a ajudar a si mesmo e aos outros para auto-melhoramento, auto-consciência e auto-despertar é um bodhisattva.

Então, como nos podemos tornar um bodhisattva?  Primeiro, temos de dar origem à mente bodhi. O que é a mente bodhi? Em primeiro lugar, bodhi mente é o voto de lutar no caminho para a budeidade e, em segundo lugar, o voto para libertar todos os seres conscientes. Uma pessoa que deu origem à mente bodhi deu origem à compaixão ao ver seres conscientes no sofrimento. Assim, promete libertar todos os seres conscientes.  Mas como cada ser tem diferentes aptidões e personagens, um bodhisattva precisa estar equipado com muitos meios hábeis para alcançá-los. É por isso que um bodhisattva faz voto de praticar o caminho para budeidade para ganhar mérito e sabedoria.

Portanto, não importa se homem ou mulher, jovem ou velho, qualquer um que tenha dado origem à mente bodhi pode ser considerado como um bodhisattva. Tu também podes ser um bodhisattva.

II.              As Seis Perfeições

Agora que entendemos o quem e o como de um bodhisattva, vamos discutir o cultivo de um bodhisattva. O que é que um bodhisattva pratica?  Que cultivo defende para ganhar mérito e sabedoria? Um dos principais cultivos são as Seis Perfeições. As Seis Perfeições também são conhecidas como as Seis Paramitas. Qual é o significado de paramita? Há duas maneiras de ver esta palavra sânscrita:

A primeira interpretação separa a palavra paramita em parami e ta.
Parami” significa “perfeito”, e “ta” é semelhante ao sufixo português -ção. É assim que conseguimos a tradução portuguesa, “Perfeição”.

A segunda interpretação é separar a paramita em param e ita.
Em chinês, a paramita é traduzida como “ir para o outro lado”. Por outras palavras, atravessar da costa do Samsara para a outra costa da libertação.

As Seis Perfeições são seis práticas de um bodhisattva que acabarão por conduzir à perfeição do Buddha, são práticas que nos levam da margem do sofrimento para a outra margem, a da iluminação.

As Seis Perfeições são:

  1. Generosidade
  2. Preceitos
  3. Paciência
  4. Diligência
  5. Concentração Meditativa
  6. Sabedoria Prajna

Neste episódio, veremos a perfeição da generosidade.

III.            A Perfeição da Generosidade

A primeira das Seis Perfeições é a perfeição da generosidade. A generosidade é uma das práticas fundamentais do budismo. Podemos ver a generosidade como o primeiro de muitos métodos de cultivo, como o Karma nos Três Atos de Bondade, Quatro Meios de Acolhimento, e, claro, as Seis Perfeições.

Como disse o Venerável Mestre Hsing Yun no seu livro, Em Benefício de Si Mesmo e dos Outros, “Dar é o primeiro passo no cuidado de seres conscientes e também a base para a libertação de seres conscientes.

Tal como a Hierarquia das Necessidades de Maslow, as necessidades básicas, como comida, água e abrigo, devem ser satisfeitas antes que as pessoas possam atender a necessidades mais elevadas, como a estima e a auto-actualização. Da mesma forma, o budismo fala de diferentes tipos de generosidade. São estes:

  1. Doação de riqueza
  2. Riqueza externa
  3. Riqueza interna
  4. Doação de Dharma
  5. Doação de conhecimentos e competências
  6. Dar do Buda-Dharma
  7. Doação da Coragem

i. Três Tipos de Generosidade

1. Doação de riqueza

Vamos olhar para a dádiva de riqueza. A doação monetária é geralmente o que vem à mente quando se fala da prática da generosidade, mas o dinheiro é apenas um tipo de doação que podemos praticar. Há dois tipos para a dádiva de riqueza: a riqueza externa e interna.

O que é que dá a riqueza externa?


Por exemplo, a dádiva de dinheiro, roupas, objetos materiais, casas e até mesmo terras são consideradas como a dádiva de riqueza externa.

E a dádiva de riqueza interna?


Por exemplo, a dádiva de sangue, órgão, medula óssea e até mesmo a vida são consideradas como a dádiva da riqueza interna.

Um australiano chamado James Harrison é conhecido como “O Homem com o Braço Dourado”. Por 60 anos doou o seu sangue até aos 81 anos, que é a idade máxima até à qual uma pessoa pode doar sangue na Austrália.

James prometeu ser dador de sangue depois de recuperar de uma grande cirurgia ao peito quando tinha 14 anos como forma de retribuição, porque a sua vida foi salva pela transfusão de sangue durante a cirurgia.

Alguns anos após a cirurgia, os médicos descobriram que o seu sangue contém anticorpos únicos e que combatem doenças, os quais podem ser usados para desenvolver uma injeção chamada Anti-D, que ajuda a combater a doença de Rhesus. Esta doença é uma condição em que o sangue de uma mulher grávida começa a atacar as células sanguíneas do seu bebé por nascer. Na pior das hipóteses, pode resultar em danos cerebrais, ou morte, para o bebé.

Depois de descobrir isto, James Harrison passou a doar plasma sanguíneo e continuou a fazê-lo semanalmente até aos 81 anos. Estima-se que tenha salvo 2,4 milhões de bebés australianos. Não considera James Harrison um grande bodhisattva que dá o que pode para salvar a vida de muitos bebés e a felicidade de muitas famílias?

2. Doação de Dharma

O segundo tipo de doação é a dádiva de Dharma. Engloba a oferta dos ensinamentos do Buda, bem como conhecimentos e competências que podem melhorar a vida das pessoas e desenvolver a sua sabedoria. É por isso que “a oferta de Dharma excede todas as ofertas.”

Vejamos primeiro a dádiva de conhecimentos ou competências:

Isto é para transmitir competências benéficas ou conhecimentos aos outros. Por exemplo, os médicos partilham os seus ensinamentos e competências médicas uns com os outros para que mais vidas possam ser salvas. Outro exemplo é quando alguém transmite uma habilidade de subsistência aos outros para que possa ter uma fonte de rendimento.

Wangari Maathai, vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2004, e também a primeira mulher africana a ganhar o Prémio Nobel, viu que a ecologia do seu país natal, o Quénia, foi destruída por plantações comerciais. O efeito da destruição ecológica foi sentido pela primeira vez pelos principais cuidadores das famílias – esposas e mães – quando se lhes tornou cada vez mais difícil encontrar lenha, água potável, comida, abrigo e rendimento.

Wangari iniciou o Movimento da Faixa Verde que ensina as mulheres no Quénia rural a plantar árvores que não só combatem a desflorestação, mas também restauram as suas principais fontes de combustível para cozinhar, gerar rendimento e parar a erosão do solo. Desde que Wangari Maathai iniciou o movimento em 1977, mais de 51 milhões de árvores foram plantadas, e mais de 30.000 mulheres foram treinadas na silvicultura, processamento de alimentos, apicultura e outros comércios que as ajudam a obter rendimento, preservando as suas terras e recursos.

Isto não é uma grande dádiva de conhecimentos e habilidades?

E a dádiva do Buda-Dharma?

Como citado no Sutra diamante,

“Subhuti, suponha que uma pessoa dê uma quantidade dos sete tesouros iguais a todas as montanhas Sumeru dentro de um sistema mundial de três mil vezes; se outra pessoa usasse este sutra prajnaparamita, mesmo que apenas quatro linhas de versos, e recebesse, defendesse, lesse, cantasse e explicasse aos outros, o seu mérito seria… um número incalculável de vezes que nem sequer podem ser sugeridos por metáforas – maiores.”

Doações de material são usadas rapidamente. Mas se dermos o Buda-Dharma aos outros, isso poderia enriquecê-los e transcendê-los tanto espiritual como mentalmente por uma vida, e até mesmo muitas vidas. É por isso que a maior dádiva é uma palavra ou uma frase do Dharma que inspira a fé nos outros, pois pode ser um catalisador que os inspira a praticar o budismo, deixar-se esquecer das suas aflições e sofrimentos, e, finalmente, alcançar a iluminação.

3. Doação da coragem

Os seres sencientes têm muitos medos, por exemplo, medos físicos como a fome, o frio e a dor; e medos mentais como aflições ou tristeza. A dádiva da coragem é aliviar o medo e a preocupação dos outros e agir com um sentido de justiça para que outros não tenham mais medo.

No “Capítulo do Pórtico  Universal” do Sutra de Lótus, o Buda descreve como o  Bodhisattva Avalokitesvara dá coragem a todos os seres conscientes:

“Bons homens, se houver inúmeras centenas de milhões de milhares de milhões de seres vivos a experimentar todo o tipo de sofrimento que ouvem sobre o Bodhisattva Avalokitesvara e chamam pelo seu nome com um esforço de espírito único, então o Bodhisattva Avalokitesvara observará instantaneamente o som dos seus gritos, e todos serão libertados.”

Dar coragem significa dar segurança, protecção, paz e alegria a todos na sociedade, e que não haja perigo, medo, supressão de pessoas, e nenhuma situação injusta. Assim, a dádiva da coragem é a maior dádiva de todas.

ii. Atitude na prática da generosidade

Quando praticamos generosidade e dádiva, podemos achar mais fácil dar coisas com as quais temos menos ligações emocionais, e muito difícil dar coisas de que realmente gostamos.

A prática da generosidade é como levantar pesos. À primeira tentativa, só se pode transportar uma carga de 5 quilos. Mas lentamente, com a prática, seremos capazes de carregar 10, 20, 50, até 100 quilogramas. Se alguém carregar 50 quilogramas na primeira tentativa, pode ficar assustado com esta prática e nunca mais voltar. Portanto, dê o máximo que puder.

Veja-se a dádiva de dinheiro, por exemplo. O Buddha aconselha-nos a usar 40% dos nossos rendimentos para cuidar dos nossos negócios, 30% para cuidar da nossa família, poupar 20% dos nossos rendimentos no banco, e dar 10% dos nossos rendimentos para empreendimentos de caridade O Buddha não nos pediu para dar tudo o que temos aos outros,  mas para fazer um bom planeamento e julgamento sobre a nossa capacidade de dar.

No entanto, devemos também dar com sabedoria. Não ceda a pedidos que vão contra os princípios do budismo de não prejudicar ou ferir outros. Dar em benefício, não fazer mal.

À medida que continuamos a praticar a perfeição da generosidade, podemos descobrir que podemos deixar de parte os nossos apegos à nossa posse, riqueza, e até mesmo a nós mesmos. A prática da generosidade resolve a nossa ganância. É uma cultivação para ter menos desejos e apegos. Gradualmente, descobrimos que podemos contentar-nos mesmo com as coisas mais simples, e que as nossas vidas estão mais cheias devido às boas afinidades que formamos com outras pessoas.

iii. Dar através dos Três Karmas

Como podemos estar atentos a ceder no nosso dia-a-dia? Podemos pensar em dar em termos dos nossos Três Karmas – karma físico, verbal e mental. Os Três Atos de Bondade, como defendido pelo Venerável Mestre Hsing Yun, é uma boa maneira de estarmos atentos a dar:

Ao fazer boas ações, podemos oferecer o nosso tempo, esforço, competências profissionais e experiência a diferentes pessoas e comunidades diferentes. Por exemplo, ajudar na cozinha da sopa, voluntariar-se em programas pós-escolares,

Quanto a falar boas palavras, dizer palavras que dêem confiança aos outros e aumentem a sua moral. Além disso, louvem e apoiem as pessoas que nos rodeiam. Nunca se sabe se a nossa simples palavra de bondade pode ajudar alguém numa fase difícil.

Que tal pensar em bons pensamentos? Quando vemos alguém a fazer um ato de dar, regozijemo-nos com a generosidade dos outros. Além disso, a dádiva mais fácil é simplesmente o nosso sorriso. Sorrir quando encontrarmos alguém (mesmo na rua). O vosso sorriso sozinho pode iluminar o dia de alguém, e especialmente o teu quando eles sorrirem em troca.

iv. Benefícios da prática da generosidade

Generosidade é uma prática que podemos fazer a qualquer hora, em qualquer lugar. Talvez se perguntem, o que recebemos em troca depois de praticar generosidade?

No livro “Beneficência para si e para os outros“, o Venerável Mestre Hsing Yun coloca a questão: “Está a dar por si mesmo ou é para os outros? Parece ser para os outros, mas na verdade é para si mesmo. Dar pode libertar uma pessoa da mesquinhez e ganância, e levar à riqueza.” A prática da generosidade não só elimina a nossa ganância, como também aumenta as nossas afinidades com os outros à medida que formamos ligações com mais pessoas à nossa volta através de atos de generosidade. Formar boas afinidades com as pessoas é o primeiro passo da budeidade.

Em Buda-Dharma: Puro e simples, o Venerável Mestre também disse: “Generosidade não é só sobre dinheiro; formando afinidades como elogios sinceros, ter uma mente compassiva, acenar ou fazer uma simples saudação, e dar uma mão amiga são todas as formas de doar alegria e felicidade aos outros. Estes momentos entusiasmados e bonitos na vida são muito mais significativos do que a dádiva monetária. “

III.            Conclusão

Para recapitular, vamos fazer-nos estas perguntas novamente:

  • O que é um bodhisattva?
    • Um bodhisattva é alguém que jurou libertar seres sencientes e alcançar a budeidade.
  • Quem pode ser um bodhisattva?
    • Qualquer um pode ser um bodhisattva!
  • Como ser um bodhisattva?
    • Para ser um bodhisattva, é preciso dar origem à mente bodhi e à mente compassiva.
  • O que é que o bodhisattva pratica?
    • O bodhisattva pratica as Seis Perfeições, que são generosidade, preceito, paciência, diligência, concentração meditativa e sabedoria prajna.

Já conheceu um bodhisattva na sua vida? Por favor, deixe uma mensagem na secção de comentários e partilhe a sua experiência!

É tudo por este episódio. Na próxima semana, discutiremos as perfeições de paciência e diligência. Obrigado por me ouvir! Omitofo.

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