Foi assim o dia de meditação e workshop de cozinha vegetariana

Dia 6 de Junho realizamos um encontro na BLIA (Buddha’s Light International Association) para praticarmos meditação Ch’an, com 18 participantes. Tivemos ainda um momento de reflexão sobre os ensinamentos do Buda, através do capítulo 3 do Dhammapada – A Mente (Citta Vagga).

Terminamos com um pequeno workshop de cozinha vegetariana, chinesa, seguido de uma excelente refeição, com a comida preparada.

1383674_1609732979302979_1113622915553970498_n

Podem ver mais momentos deste nosso dia, no facebook do Templo, aqui…

This slideshow requires JavaScript.

Em Setembro iremos retomar mais actividades de meditação, culinária, assim como o Dia de Prática Ch’an.

Às quintas-feiras, às 19h00 temos estudos budistas e meditação. Esta série de estudos terminará no final de Junho e retomaremos em Setembro.

workshop budismo e culinária vegetariana

A mente é a fonte de todas as coisas

“O que é apego? Estar apegado significa estar agarrado aos nossos pensamentos. É acreditar que todas as coisas existem efetivamente como a nossa mente condicionada as perceciona. Apegamo-nos continuamente a crenças e criamos divisões artificiais. Decidimos que algumas coisas são invariavelmente boas e outras não. Este apego a conceitos é fundamentado na presunção de permanência. Embora todos os fenómenos estejam em permanente mudança a mente projeta uma imagem fixa e agarra-se a ela, assumindo que as coisas são de determinada maneira sempre. Esta tentativa de ver o mundo da forma como gostaríamos que fosse e cristalização dessa imagem é referido como “apego ao ego”. Aprisionados por apegos, ignoramos oportunidades de nos libertarmos e crescer.

Peaceful_guhyagarbha

Estar confinado a um quarto pequeno sem espaço para nos movermos para trás ou para a frente cria um retraimento no corpo. Quando queremos mudar de posição não temos espaço, portanto sofremos. Movemo-nos um pouco para um lado mas é desconfortável na mesma. Sofremos a cada movimento, porque os nossos movimentos são constringidos. Este é o efeito que o “apego ao ego” e a avidez têm tanto no corpo como na mente. Criamos um espaço diminuto e esconso para nós e para os outros por reprimirmos o amor e a compaixão. O apego ao ego, a avidez e o pensamento dualista tornam-nos limitados e defensivos de tal forma que transmitimos essas qualidades aos outros, tornando toda a gente desconfortável.

A porta deste estreito quarto está totalmente aberta, mas se não passamos por ela pode muito bem permanecer trancada e sofreremos essas limitações. Quando abrimos o nosso coração e mente e amamos todos os seres de igual forma, libertamo-nos para o infinito, a realidade para além de todos os limites conceptuais, a natureza original e primordial da mente que é eternamente aberta e livre. Ao abrir mão do apego ao ego, estamos meramente a retornar à natureza primordial tal como é e sempre foi e será.

Ao acarinhar noções dualistas como bem e mal absolutos, desenvolvemos inconscientemente esperanças e medos que conduzem a ciclos emocionais de exaltação e depressão. Evitamos o que não gostamos e assumimos que existe algo de bom a que nos devemos ligar (apegar) e no qual devemos depositar as nossas esperanças. Se estes pressupostos não forem incontestados, a esperança e o medo podem destruir a nossa visão dos fenómenos e destruir-nos. Perdemos o nosso poder e verdadeira identidade sob a sua influência. Onde são originados as esperanças e os medos? Numa mente dividida por conceitos dualistas. A mente é a principal fonte de tudo.”

Este pequeno texto foi extraído do comentário do Venerável Khenchen Palden Sherab Rinpoche aos “Ensinamentos sobre as deidades iradas e pacíficas”. Para mais informação queiram pesquisar este título na Internet. Outras palavras-chave: Zhi-Khro

O Budismo, que é apenas um conceito em si, define os ensinamentos de Buddha e torna-os tangíveis para as nossas mentes conceptualistas ajudando-nos a definir a via para a libertação do samsara, o ciclo interminável de nascimento e morte fundamentado na ignorância.

Tangível mas não imediato uma vez que para os entender verdadeiramente é preciso estudar, contemplar e meditar. O estudo é a fonte da sabedoria, a contemplação consiste na reflexão contemplativa dos ensinamentos e a meditação a abertura da Visão que leva à libertação.

Uma boa forma de contemplar os ensinamentos é observar as nossas próprias vidas e os estados mentais que originaram os acontecimentos que mais nos marcaram. Ao contemplar este excerto é praticamente impossível não rever acontecimentos das nossas vidas que foram marcantes. Uns que queremos evitar a todo o custo, outros que gostaríamos de repetir. Outra forma é contemplar o nosso estado mental nas pequenas coisas. Por exemplo, quando vemos um bolo delicioso num expositor de uma pastelaria qual é o estado emocional que nos assalta? O desejo de o ingerir, de sentir aqueles sabores intensos no na boca, de colocar as papilas gustativas em êxtase. Chegamos a salivar só com essa perspetiva. Não é assim? Se não resistimos e entramos na pastelaria, assim que metemos o bolo na boca e sentimos as sensações que conhecemos e queremos reviver, logo surge o medo de que todas estas sensações acabem pois percecionamos o bolo como algo finito. Quando o bolo efetivamente acaba ainda queremos repetir. Sabe sempre a pouco. É claro que este é apenas um exemplo e nem toda a gente morre de amores por pastelaria fina. Mas os seus processos mentais são exatamente os mesmos com as coisas em que depositam as suas esperanças e medos.

Desejo que este pequeno bolo vos abra o apetite para o Dharma. Quando se prova com uma mente aberta é como o bolo…queremos mais. A grande vantagem é que não é prejudicial para a saúde, torna a mente mais clara, melhora as nossas vidas e as dos outros. A mente é a fonte de todas as coisas.

Que todos os seres venham a possuir a felicidade e a causa da felicidade,
Que possam libertar-se do sofrimento e da causa do sofrimento,
Que possam nunca se separar da felicidade que é ausente de dor,
Que possam permanecer na incomensurável equanimidade que é livre do apego aos próximos e aversão aos outros.

Post by Luís Jordão