Venerável Mestre Hsing Yun
(tradução: Eduardo Patriarca)
Capítulo 1: Fé
A fé religiosa é considerada pelos chineses como uma forma de receber bênçãos através da oração. Muitos budistas também não compreendem que a verdadeira fé religiosa é construída sobre a compaixão altruísta e o desapego da forma. A maioria não percebe que a fé religiosa se baseia na visão correcta, honestidade, justiça e dedicação altruísta na ajuda aos outros.
Ao falar em fé, as pessoas muitas vezes defendem a crença de que “ter um bom coração é suficiente, e que não há necessidade de fé religiosa”. No entanto, porque é que algum bom coração rejeitaria a fé religiosa? Há também pessoas orgulhosas de ser não serem religiosas e dizem: “Não acredito em nenhuma religião. Eu não tenho fé.” No entanto, quando confrontadas com adversidades como um fracasso empresarial, uma relação decepcionante, uma crise existencial, ou quando atormentadas pela dor e pela doença, as pessoas procuram naturalmente apoio religioso. Em particular, quando ocorre uma morte na família, muitas vezes as pessoas procuram ainda um monástico para presidir ao funeral. Assim, pode dizer-se que as questões da vida e da morte não se separam da fé religiosa.
Sima Zhongyuan (司馬中原), o famoso escritor, descreveu-se uma vez durante uma palestra pública como “um budista de coração” apesar de ser católico. Disse que, na China, o Budismo está no coração de todos, independentemente das suas crenças religiosas. Com o costume de cantar o nome de Buddha Amitabha ou rezar à Bodhisattva Guanyin em tempos de doença e adversidade, transmitido por milhares de anos, pode dizer-se que a fé budista é uma parte inerente da cultura chinesa.
Na verdade, para os budas e bodhisattvas não importa se alguém acredita neles ou não. Para eles, não há ganho ou perda alguma. No entanto, seria uma verdadeira pena se uma pessoa não tivesse fé em si mesma. Dúvidas sobre a nossa própria capacidade, conhecimento e compreensão, decorrem da falta de auto crença.
Uma pessoa que tem fé em si mesma é capaz de cometer ações saudáveis e tem força para ajudar os outros. Além disso, é capaz de discernir o saudável do nocivo e de acreditar na sua própria capacidade e potencial. Não seria uma vida com significado?
Certamente, os níveis de fé podem ser comparados a um sistema escolar que inclui o ensino primário, o ensino secundário e a universidade. Assim como os alunos completam os seus níveis de nota sequencialmente, a fé tem os seus próprios incrementos, começando com uma compreensão básica e progredindo gradualmente passo a passo.
Quanto aos diferentes níveis de fé, eu disse uma vez: “Nenhuma fé é melhor do que fé errada, a fé cega é melhor do que nenhuma fé, e a fé correcta é melhor do que a fé cega.” A base de qualquer religião deve ser estabelecida com base na fé correcta que nos permite colher benefícios incomensuráveis. Não só se deve desenvolver a fé correcta, como se deve acreditar, igualmente, numa religião que permita a liberdade de o fazer. Em particular, é melhor que todos tenhamos confiança e fé em nós mesmos. O Budismo ensina que a fé mais importante é a fé em si mesmo, acreditar no seu potencial para alcançar Buda e ser uma boa pessoa. Como tal, não é importante ter fé em si mesmo?
A fé é como um oceano, não seria maravilhoso ter um coração tão ilimitado como o oceano? A fé é como tesouros nas montanhas. Não é assim, que as belas virtudes da sabedoria, arrependimento, benevolência e justiça que residem no coração também representem a fé? Não importa quem sejam, admitam que também têm fé! Só com fé a vida pode ser inteira e completa. Só com fé se pode procurar espiritualidade e objetivos. Só através da fé é que se encontra a transcendência e um eu maior. Só assim se pode ter sucesso no futuro.