24 de Junho – CARTA DE DESPEDIDA PARA A MINHA MÃE

Diz-se que todos os Budas que apareceram neste mundo receberam o seu corpo a partir dos seus pais. Todos os fenómenos que surgem estão dependentes do céu e da terra. Como tal, se não houvesse pais, ninguém nascia, e sem o céu e a terra, ninguém poderia crescer. Todos nós dependemos e sentimos gratidão por aqueles que cuidaram de nós e nos ensinaram coisas; e fomos todos protegidos e apoiados pelas suas virtudes. Todos os seres sencientes e todos os fenómenos são impermanentes, não estando à parte do nascimento e da morte. É difícil retribuir o sustento, o carinho profundo e o facto de termos sido criados com bondade. Mesmo que fossemos capazes de oferecer todo o tipo de objetos mundanos, ainda assim seríamos incapazes de retribuir toda essa bondade. Se uma pessoa alimentasse os seus pais com o seu próprio sangue, será que isso os manteria bem para sempre? O “Clássico da Piedade Filial” diz, “Mesmo que um filho providencie a carne de vaca, de carneiro e de porco, para alimentar os seus pais, ainda assim ele não seria um filho filial.” Os laços fortes conduzem ao renascimento perpétuo.

Não há maneira mais eficaz de retribuir esse amor e bondade que decidir abandonar com virtude e mérito a nossa vida caseira. Ao guiar os nossos pais através do ciclo de nascimento e de morte no rio dos afetos, e ao levá-los para além desse mar amargo das aflições, podemos pagar a nossa dívida que se estende por um milhar de vidas – podemos retribuir a gentileza de um dos nossos pais por dez milhares de kalpas. Entre todos aqueles que habitam os três planos de existência e que nos pagaram com as quatro bondades, nenhum deles ficará sem a sua recompensa. Os sutras dizem, “Quando uma criança deixa a vida caseira, um conjunto de nove parentes entrará no céu.”

Eu, Liangjie, renuncio o meu lugar na vida e faço o voto de não regressar a casa. Eu dedico aos meus sentidos e experiências durante kalpas infinitos para entender instantaneamente o prajna. Eu desejo que vocês, meus pais, consigam entender isto e que fiquem felizes ao deixar-me partir, sem se deixarem prender aos nossos laços. Espero que consigam aprender com o Rei Suddhodana e a Rainha Maya que, em outros tempos e noutros dias, foram ao encontro do Buda. Hoje, agora, despedimo-nos. Isto não significa que vos virei as costas ao não vos sustentar, mas o tempo não espera por ninguém. É por isso que se diz, “Se hoje ninguém está para ser libertado, então quando será?”. Espero que não pensem em mim.

Audio do livro 365 Dias para o Viajante, do Ven. Mestre Hsing Yun