Ouvi dizer que os velhos ciprestes que estão em frente ao santuário de Zhuge Liang têm ramos que parecem ser feitos de bronze; têm um espírito de justiça que se parece com o aço e são uma obra de arte da natureza. Também ouvi dizer que os juníperos que estão por cima do mausoléu de Yue Fei são tão altos que rasgam os céus; os seus ramos verdejantes inclinam-se ante o Sul, em sinal de lealdade. Ao assumir que estas árvores não são sencientes, por que razão serão adoradas por tantos? As testemunhas da história são ainda capazes de sentir a lealdade de Zhuge Liang, que prolongou o reino de Hang, e de Yue Fei, responsável por expulsar os bárbaros.
Da mesma forma, não há herói mais verdadeiro que Yangping*, que herdou como ninguém o espírito da cavalaria. O teto do seu santuário chega até aos céus, enquanto que a velha ameixoeira que está lá dentro encontra-se em plena floração. Os novos ramos que brotam do tronco gigante estão cobertos de folhas exuberantes, enquanto que a sua subtil fragrância espalha-se pela brisa amena da Primavera.
Num ímpeto de fúria, Yanping ergueu-se, chamou-se a si próprio um órfão, e voou pelos céus montado num urso voador*. Com uma longa espada em mão e o Monte Kongtong por trás de si, ainda assim foi incapaz de terminar a crise de Luyang e de revitalizar o local. Tendo supostamente viajado em direção ao Monte Tian num cavalo, e tendo pendurado o seu arco, como poderia ele ter desistido a meio caminho da sua expedição a Norte e da sua viagem para o Sul? Os empreendimentos pioneiros estavam, todavia, a apontar para Leste do Mar do Leste. Apesar da baleia lendária** ter avançado, as águas permaneceram turvas. À medida que o farol se sobrepôs aos rios e às montanhas vizinhas, ele permaneceu indetetável durante a transição dos tempos.
Agora, a única coisa que se consegue ver é a ameixoeira que floresce ano após ano, com uma floração cada vez mais verdejante. De acordo com a lenda, esta árvore viveu por mais de duzentas primaveras e verões. Com o seu vigor proveniente das raízes que se entrelaçam por baixo, esta árvore está congelada, com as suas origens enterradas na neve e os seus ramos, selados pelas nuvens que estão no cimo. A lua nítida e brilhante aparece num canto embatendo contra a parede vermelha, enquanto que o reflexo gélido da sua espada reluz à meia-noite.
Apesar de eu apreciar o canto e de falar sobre tais assuntos, o meu coração preocupa-se enquanto penso sobre os nove estados. Aquilo que vejo não é nada mais que um mar de pétalas da ameixoeira, nesta Primavera verdejante.
Audio do livro 365 Dias para o Viajante, do Ven. Mestre Hsing Yun