15 de Março – CANÇÃO DA VELHA AMEIXOEIRA FRENTE AO SANTUÁRIO DE YANPING 

Ouvi dizer que os velhos ciprestes que estão em frente ao santuário de Zhuge Liang têm ramos que parecem ser feitos de bronze; têm um espírito de justiça que se parece com o aço e são uma obra de arte da natureza. Também ouvi dizer que os juníperos que estão por cima do mausoléu de Yue Fei são tão altos que rasgam os céus; os seus ramos verdejantes inclinam-se ante o Sul, em sinal de lealdade. Ao assumir que estas árvores não são sencientes, por que razão serão adoradas por tantos? As testemunhas da história são ainda capazes de sentir a lealdade de Zhuge Liang, que prolongou o reino de Hang, e de Yue Fei, responsável por expulsar os bárbaros.

Da mesma forma, não há herói mais verdadeiro que Yangping*, que herdou como ninguém o espírito da cavalaria. O teto do seu santuário chega até aos céus, enquanto que a velha ameixoeira que está lá dentro encontra-se em plena floração. Os novos ramos que brotam do tronco gigante estão cobertos de folhas exuberantes, enquanto que a sua subtil fragrância espalha-se pela brisa amena da Primavera.

Num ímpeto de fúria, Yanping ergueu-se, chamou-se a si próprio um órfão, e voou pelos céus montado num urso voador*. Com uma longa espada em mão e o Monte Kongtong por trás de si, ainda assim foi incapaz de terminar a crise de Luyang e de revitalizar o local. Tendo supostamente viajado em direção ao Monte Tian num cavalo, e tendo pendurado o seu arco, como poderia ele ter desistido a meio caminho da sua expedição a Norte e da sua viagem para o Sul? Os empreendimentos pioneiros estavam, todavia, a apontar para Leste do Mar do Leste. Apesar da baleia lendária** ter avançado, as águas permaneceram turvas. À medida que o farol se sobrepôs aos rios e às montanhas vizinhas, ele permaneceu indetetável durante a transição dos tempos.

Agora, a única coisa que se consegue ver é a ameixoeira que floresce ano após ano, com uma floração cada vez mais verdejante. De acordo com a lenda, esta árvore viveu por mais de duzentas primaveras e verões. Com o seu vigor proveniente das raízes que se entrelaçam por baixo, esta árvore está congelada, com as suas origens enterradas na neve e os seus ramos, selados pelas nuvens que estão no cimo. A lua nítida e brilhante aparece num canto embatendo contra a parede vermelha, enquanto que o reflexo gélido da sua espada reluz à meia-noite.

Apesar de eu apreciar o canto e de falar sobre tais assuntos, o meu coração preocupa-se enquanto penso sobre os nove estados. Aquilo que vejo não é nada mais que um mar de pétalas da ameixoeira, nesta Primavera verdejante.

Audio do livro 365 Dias para o Viajante, do Ven. Mestre Hsing Yun