Penso que os ocidentais vão identificar-se cada vez mais com os princípios budistas

O Mestre budista Hsin Ting esteve ontem em Lisboa, numa palestra sobre a prática do Budismo Humanista

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“Tanto quanto sei, há cada vez mais gente a converter-se ao budismo. Isto porque as pessoas no ocidente já atingiram uma qualidade de vida muito alta (a nível material ou outros objectivos de vida). No entanto, o sofrimento não deixa de existir… e as pessoas querem realmente perceber como podem alterar isso, como podem atingir a tal felicidade . Muitas vezes acabam por encontrar na religião o (seu) caminho, mas só o budismo é que pode dar às pessoas aquilo que é preciso, que começa no respeito e aceitação de todos os seres. Isso só existe no budismo”, explica o Mestre Budista e abade do Templo Tai Hua na Tailândia, Hsin Ting, ao Portal Martim Moniz.

Numa visita à velocidade da luz, o Venerável Mestre Hsin Ting passou por Lisboa, para dar uma palestra sobre “Estudos Budistas”, que teve lugar ontem na faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É já a terceira vez que se desloca ao país de Camões e, ao que tudo indica, de ano para ano a receptividade é maior. O auditório encheu, claro, e foram muitas as caras ocidentais presentes na sala. Uns curiosos com o que o Mestre tinha para dizer, outros porque já encontraram nesta filosofia de vida uma forma de estar. Confirma-se então que o budismo está a chegar a todo o lado e Portugal não é excepção. “No budismo temos os preceitos não matar, não roubar, não ter prática sexual desadequada, etc, e as pessoas podem aplicar estes preceitos no dia-a-dia, na própria família para terem uma vida mais harmoniosa”, afirma. A nossa conversa acontece horas antes da palestra, na sede da Associação Internacional Buddha´s Light de Lisboa. Não há melhor espaço para ficarmos a conhecer a religião e ninguém melhor para explicá-la. “A prática da meditação é também muito importante, pois pode ajudar todas as pessoas a acalmarem-se e a enraizarem-se. Todas as pressões que temos no dia-a-dia, a única forma que temos de tirar esse peso, essa pressão é através da prática da meditação”, acrescenta, frisando que já está mais do que cientificamente provado que a meditação faz bem ao corpo e à mente. “Todos os avanços tecnológicos e científicos são compreendidos e apoiados pelos princípios budista. Está provado cientificamente que a prática meditativa altera a mente e a saúde física do nosso corpo. Talvez por isso é que há cada vez mais pessoas no ocidente a aderir ao budismo. Além disso, acredito que quanto maior for o nível cultural, mais fácil será compreender e aderir a estes princípios. Penso que os intelectuais no ocidente, quer na Europa, quer nos Estados Unidos vão identificar-se cada vez mais com os princípios budistas”, defendeu o também editor principal do jornal do budismo “Merit Times”.
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© Shyan

E foi também isso que explicou para a audiência atenta que o ouvia. À semelhança do budismo, também o budismo humanista tenta “falar e resolver os problemas que as próprias pessoas criam.” “Na vida, todos encaramos o mundo fisicamente e mentalmente. Todas as coisas que vemos e que estão presentes são resultado de uma combinação de várias causas e condições que, quando juntas, dão origem a tudo o que vemos e essas coisas devem estar em harmonia.” Por essa razão, no budismo é fundamental ter uma mente limpa, que levará o ser humano a ter atitudes mais correctas, dando origem à compaixão. “O nosso objectivo enquanto pessoas é não fazermos diferenciação entre raças, países e devemos tratar toda a gente de forma igual”, adianta o Mestre. Para isso, a primeira regra é quebrar com o egoísmo e perceber que tudo no mundo é uma passagem. “Nada é fixo, nada é permanente e isso é o princípio da impermanência. Nem o nosso corpo fica cá para sempre. Aliás, o nosso próprio corpo causa-nos sofrimentos…. quer físicos quer mentais e, normalmente, aquilo que valorizamos mais é o nosso corpo”, reflecte.

No que toca à mente, o Ven. Mestre Hsin Ting também diz que esta também é traiçoeira, pois não é real. “A nossa mente tem várias funções. Por exemplo, cabe-lhe ter percepção de sentimentos, de emoções, de ideias, mas isso são coisas que não são verdadeiras. A nossa mente pode parecer muito inteligente quando faz análises, escolhas, no entanto, aquilo que chamamos de consciência, se não tiver um corpo físico que a suporte, não existe, portanto não é real” e vice-versa.

“O grande ensinamento do Buda Sakyamuni é que todas as coisas dependem umas das outras, não existindo por elas próprias. São as chamadas causas e condições no budismo. Tudo está dependente de tudo. Não existe mundo sem nos ajudarmos todos uns aos outros e isto é o budismo humanista”, conclui o Mestre. A conversa vai longa e o tempo é curto. Se o tempo permitisse, ficaríamos a tarde toda na conversa com uma das principais figuras do budismo internacional sobre estas questões e muito mais…

Autora: Beatriz Silva
Fonte: Portal Martim Moniz